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DI CAVALCANTI - 125 ANOS
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Em comemoração aos 125 anos de nascimento do carioca Di Cavalcanti, a Danielian Galeria apresenta um conjunto de obras raras e extraordinárias do artista pertencentes a coleções particulares de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Integram a mostra duas excepcionais obras inéditas no Brasil, localizadas pela Galeria em Paris, cidade onde o artista residiu por longos períodos, em diferentes momentos de sua vida; complementando de forma impactante o conjunto da exposição. 

 

Inserida na história da arte brasileira, por mais de cinquenta anos, a produção cavalcantiana desdobra-se em muitas facetas:  ilustrador, desenhista, caricaturista, pintor e muralista. Seu trabalho não tem par entre os artistas plásticos do Primeiro Modernismo, sendo Di Cavalcanti o único deles a manter uma produção constante e expressiva até sua morte, em 1976.

 

As obras traçam um percurso do artista das décadas de 1920 a 1970, através de seu tema favorito, o povo brasileiro, com suas mulheres, festas, sambas e carnavais. O conjunto proporciona a oportunidade única de ver algumas de suas obras-primas e também de acompanhar sua trajetória pictórica, pesquisas estéticas, opções construtivas e afinidades eletivas.

 

Terminando pelo início, a exposição apresenta Fantoches da Meia Noite, álbum realizado por Di Cavalcanti em 1921. Seu lançamento foi o ponto de partida da Semana de Arte Moderna de 22, na qual Di teve grande protagonismo.

 

Di Cavalcanti – 125 anos apresenta assim o artista na sua integridade, um carioca apaixonado, boêmio, sensual e romântico - autor de algumas das mais belas obras da arte brasileira. 

 

Denise Mattar

Curadora

Bahia

Bahia

Bahia, 1935, fez parte da exposição de Di Cavalcanti realizada na Galerie Rive Gauche, em 1936, ano em que o artista se autoexilou em Paris, onde permaneceria até 1939. A mostra foi apresentada de 17 de junho a 3 de julho, e reunia 21 obras. O folheto do evento traz uma lista com a ficha técnica de cada uma delas, o que não auxilia muito na sua identificação, pois o artista não tinha o hábito de dar títulos aos seus trabalhos, adotando nomes genéricos. Como usual nas publicações da época, o folheto reproduz apenas 4 obras, em preto e branco, sendo duas delas conhecidas: a Igreja Azul (coleção particular) e Retrato de Mulher (acervo Fundação Edson Queiroz de Fortaleza). Complementa o folheto um prefácio do crítico francês Benjamin Crémieux, através do qual ficamos sabendo que ele esteve no Rio em 1930, sendo ciceroneado por Di Cavalcanti. 

 

Considerado um crítico literário de grande importância na França, ele fala em seu texto sobre o impacto da visita aos morros cariocas, e da importância dessa vivência na obra de Di, dedicando o parágrafo final à uma descrição da obra Bahia, que, na sua visão “é uma árvore amputada que não desiste de florescer e se torna uma sentinela”. Uma bela imagem literária para esta árvore roliça, que aparece em algumas obras do artista, como Morro, 1928, e remete ao baobá Maria Gorda de Paquetá, local onde Di se refugiou de perseguições políticas e do qual saiu para se exilar na França. Uma obra que também pode ser interpretada como uma metáfora a esse momento da vida do artista. Uma árvore cortada que renasce, apesar de isolada, tendo ao fundo um morro brasileiro, cheio de vida, que poderia estar tanto na Bahia quanto no Rio.

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“Gôsto do povo. Música de povo.

Música sem alegria, ingênua e triste…

Tudo é mau gôsto

Tudo é péssimo gôsto

Tudo é banal, banal maravilhoso

A gente come o Carnaval…”

Di Cavalcanti

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Carnaval

O inédito painel Carnaval, tem características que o situam na produção realizada entre os anos 1929 e 1931, quando a influência muralista toma corpo na obra de Di Cavalcanti. O parentesco com obras primas como Samba, de 1925, com os painéis Samba e Carnaval, 1929, do Teatro João Caetano, e Cinco moças de Guaratinguetá,1930, é absoluto: pela volumetria, composição, características cromáticas e temáticas. O mural apresenta um grupo de homens vestidos como mulheres, preparando-se para o Carnaval. Não são figuras travestidas dentro do entendimento atual, pois os traços masculinos: pelos nas pernas e braços, bigodes e barbas, são evidentes e um tanto caricaturais. O grupo está reunido no alto de um morro, e, atrás das ondulações da paisagem, na linha do horizonte, está o mar. 

 

As cores são fortes e vibrantes, construídas em velaturas, criando profundidades e acentuando a monumentalidade da cena. Di tem como proposta criar um muralismo inteiramente diverso do mexicano, que é marcadamente político, preferindo se debruçar sobre o aspecto humanista. Os sambas, morros, favelas e danças, que ele pinta são verdadeiros, quentes, amorosos e carnais — feitos de dentro. Sua obra tem de fato, o cheiro, o sabor e a cor do Brasil.

Fantoches da meia-noite

Di Cavalcanti era muito amigo de Paulo Barreto, o João do Rio, cronista famoso, tradutor de Oscar Wilde, e autor de A alma encantadora das ruas. O escritor apresentou o artista ao submundo carioca, o que o levou a produzir a série Fantoches da Meia-Noite, em 1921. São 16 gravuras realizadas em traço leve e elegante, ocupando o espaço das páginas de forma inteligente e original, com o uso de sombras descomunais, que maximizam dramaticamente o desamparo dos personagens, manipulados pelos cordéis da noite vazia, entre eles a prostituta, a cafetina, o pianista, o bêbado, o vagabundo e o mendigo. O conjunto, acompanhado de texto do poeta Ribeiro Couto, foi editado por Monteiro Lobato num álbum extremamente moderno para a época e de grande impacto até hoje. O lançamento foi realizado com uma exposição, na livraria O Livro, em São Paulo, um ponto de encontro da elite pensante da época.  Na ocasião estiveram presentes Paulo Prado e Graça Aranha, e ali já se falou da possibilidade de criar um evento modernista, que viria a ser a Semana de Arte Moderna de 1922.

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